Prisioneiro 24601

Eu nao costumo chorar no cinema, mas a cena da Fantine (Anne Hathaway) cantando “I Dreamed a Dream” no filme “Les Miserables” me fez chorar muito. Ela transmite tanta emoção, tanto sofrimento, tanto desalento na sua interpretação, que me tocou profundamente. E o filme todo, na verdade, te transporta e emociona do começo ao fim. Foi lindo, uma experiência transformadora. Toda pessoa que se sente oprimida deveria assistir esse filme. Porque mostra em sintese, o poder de uma revolução.

Admito que pensei que ia estranhar muito um filme cantado do começo ao fim. Mas o roteiro vai cativando o publico a cada momento: de repente, tinha esquecido que todos ficam cantando. Começa com o Jean Valjean (Hugh Jackman) sendo libertado depois de anos e anos na prisão por ter roubado um pedaço de pão. Dai ele consegue reconstruir sua vida, promete que vai ajudar as pessoas, e encontra Fantine. Ele acaba cuidando da filha dela, a Cosete. Sempre seguindo seus valores e sua ética pessoal.

Em toda a sua vida de homem livre, Valjean sofre com o encalço do seu pior inimigo, o inspetor Javert (Russel Crowe). Aqui um parênteses, eu nao imaginava que os dois cantavam tao bem! O Javert faz de seu objetivo de vida prender Valjean, mas o Valjean nao pode ser preso e deixar a Cosete sozinha. Entao eles fogem por muito tempo e a ação vai para Paris, na revolução. A Cosete acaba se apaixonando pelo Marius. Eu fiquei encantada pelo menininho que faz o Gavroche, um garotinho muito fofo.

O Javert nao se refere ao Valjean como pessoa até o final. Para ele, nao existe uma pessoa por  trás de um bandido. O Valjean nao é um ser humano, nao merece consideracao nem dignidade. Ele é só uma placa, um número: prisioneiro 24601. Nao importa a história dele, os atos de coragem e determinação, ele nada enxerga, só impõe como sua missão pessoal, perseguir e infernizar o prisioneiro de número 24601, ate prendê-lo e devolvê-lo ao lugar que ele pertence, ou seja, a prisão fétida e cruel. Porque bandido é sempre bandido.

Eu percebo muitas correlações com o mundo atual em que vivemos e o romance de Victor Hugo. A apatia das pessoas frente à injustiça social, por exemplo. Porque nao conseguimos levantar a sociedade para protestar contra tanta coisa errada que vemos no nosso cotidiano? Porque tanta gente segue entorpecida e acredita que bandido bom é bandido morto? As cadeias não servem para recuperar ninguem. Pensar, refletir e agir em relacao a todas essas questoes nao é uma tarefa facil. Muito pelo contrario. É tarefa para uma vida. Bjs.

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