O lugar do outro

Erika, acho que essas pessoas pobres não deviam ter o direito de andar na Paulista de domingo. Eles tem que ficar onde eles moram, lá na periferia. Aqui eles atrapalham, trazem camelôs, barulho, bagunça, trombadinha. Estou participando de um grupo que vai tentar acabar com o domingo na Paulista“. A minha reação: 😲😲😲

Quem me conhece, sabe que eu sou idealista, sonhadora, volunt´ária em várias iniciativas porque acredito em uma mudança para o bem do mundo, e que fazemos parte dessa mudança. E quem me conhece muito bem inclusive sabe que essa frase foi dita por uma das pessoas que eu mais adoro, apesar de termos posicionamento BEM diferente no que tange à visão de humanidade e sociedade.

Aliás, inclusive passamos mais de um ano sem falar por causa do meu trabalho no Movimento Àgua no Feijão. Eu defendo que ninguém deve passar fome, especialmente na cidade mais rica da América Latina. Essa desigualdade e injustiça é algo que não podemos aceitar mais. E vou continuar defendendo as pessoas e trabalhando pelo bem, porque desde que eu fiz o meu primeiro trabalho voluntário, distribuindo sopa na rua, eu entendi que as pessoas que estão na rua não estão lá porque querem. Como diz o Dalai Lama, na vida a gente deve tentar ajudar as pessoas. E se não conseguir ajudar mesmo, pelo menos…não prejudique!!

Dai estavamos andando e ele tirou umas fotos de algo que acho simplesmente abominável. Um predio na Paulista colocou umas plantas na beira do edificio, para que os moradores de rua não fiquem por ali. E ele vai sugerir isso em outro condominio. E eu fiquei novamente assim: 😲😲😲, sem palavras.

Você sabia que isso de colocar estacas, grades, ganchos, plantas, vidro, água, cerca na arquitetura urbana, para afastar as pessoas desabrigadas, existe e tem nome?? Chama-se aporofobia. Uma aversão ao pobre e à pobreza, pelo simples fato dele ser pobre.

Aporofobia foi eleita a palavra do ano em 2017 pela Fundação Espanhol Urgente (Fundéu). O termo tem sido usado de maneira recorrente pelo padre Júlio Lancellotti como uma campanha para descrever as pessoas que implantam as instalações urbanísticas que impedem a aproximação e permanência de moradores de rua em locais públicos.

Segundo ele, o motivo dessas intervenções é a aversão às pessoas mais pobres. O termo aporofobia vem de duas palavras gregas: “áporos”, o pobre, o desamparado, e “fobia”, que significa temer, odiar, rejeitar. Da mesma forma que “xenofobia” significa “aversão ao estrangeiro”, aporofobia é a aversão ao pobre pelo fato de ser pobre.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59898188

O padre Julio Lancellotti é uma das pessoas que eu mais admiro, por sua visão humanista e combativa. E ele tem publicado no Instagram dele algumas denuncias de aporofobia. Sinceramente, tem coisas que me fazem pensar: por que existe um ser humano que fica pensando nessas maquinarias? Dificil acreditar que exista mercado para criar tecnologias antihumanas. Mas existe, e com muita demanda.

Enfim, você pode me questionar; se eu tenho essa visão literalmente oposta, porque continuo sendo amiga dessa pessoa? Eu procuro ver o melhor de cada um, e sei que todos nos temos as nossas batalhas para vencer. Antes de ser compreendida, procuro aprender e compreender. Existe um motivo para a pessoa pensar assim, e a vida vai mostrar, no momento certo, a realidade do mundo.

E se tem uma coisa que eu aprendi na minha formação de coaching (sim, sou coach formada), é que tem coisas que são puro desperdicio de energia vital: critica, julgamento e opiniao sobre a vida dos outros. Pense como é dificil mudar alguma coisa em você mesmo. Então perceba como é impossivel a gente querer mudar o outro. Então eu fico com a minha reação de espanto 😲😲😲 e tento colocar um pensamento de empatia nas cabecinhas aporofobicas que encontro pelo caminho.

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